segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Pois....

Para além da austeridade aplicada ao português comum os funcionários públicos tiveram um corte de 10% do vencimento, pagam mais contribuições, tiveram maiores penalizações no caso das reformas antecipadas e perderam dois subsídios. Qual foi a posição de quase todos os que agora protestam e acusam o governo de brutalidade? Ficaram calados, optaram pelo cinismo de ficarem em silêncio pensando que se sacrificavam alguns portugueses e os outros se escapavam.  
Por cá enquanto a austeridade atingiu os funcionários públicos ninguém se importou, quando se aumentaram os impostos sobre o consumo dos mais pobres ninguém se importou, quando se aumentaram os passes sociais e se cortaram nas prestações sociais ficaram calados, quando os professores começaram a ser despedidos em massa ninguém protestou, mas agora que a brutalidade da austeridade chegou sob a forma de meia dose aos jornalistas, aos advogados e a muitos opinion maker aqui del Rei que a austeridade é demais. 
Os funcionários públicos podiam perder o equivalente a 3,4 vencimentos que não havia problema, estava tudo a correr sobre rodas, mas quando os outros têm de pagar o equivalente a um vencimento é o ai Jesus que o país já não aguenta mais austeridade, até parece que até aqui tudo estava a correr bem e que a austeridade estava a ser ministrada em doses equilibradas e de forma inteligente e competente. Os que pensavam que se sacrificavam os funcionários públicos numa noite dos cristais e tudo estava resolvido enganaram-se. 
Mas mais uma vez temos que recordar o famoso poema de Bertolt Bretch 
Primeiro levaram os negros 
Mas não me importei com isso 
Eu não era negro 
Em seguida levaram alguns operários 
Mas não me importei com isso 
Eu também não era operário 
Depois prenderam os miseráveis 
Mas não me importei com isso 
Porque eu não sou miserável 
Depois agarraram uns desempregados 
Mas como tenho meu emprego 
Também não me importei 
Agora estão me levando 
Mas já é tarde. 
Como eu não me importei com ninguém 
Ninguém se importa comigo.  

Bertold Brecht (1898-1956)

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